
Em 1982 eu havia me elegido deputado estadual no Maranhão, quando fui
o mais jovem entre os eleitos no Brasil. Enquanto eu exercia meu
primeiro mandato eletivo, o hoje presidente da República era
procurador-geral do maior Estado brasileiro e depois foi seu secretário
de Segurança.
Conheci Michel Temer em 1987, em Brasília, quando fomos deputados
federais constituintes! Esse patrício, descendente de libaneses, sempre
foi um sujeito pacato e talvez essa deva ser a sua marca registrada.
Muito formal, fala como se escolhesse as palavras, buscando sempre com
elas esculpir frases perfeitas.
O Michel com quem tive um breve convívio, não me pareceu ser uma
pessoa intransigente, um camarada arrogante, um homem duro ou
inflexível, pelo contrário, sempre o achei cordato e contemporizador, às
vezes até demais.
Não tenho notícias de ele ter sido grosseiro ou impertinente com quem
quer que seja. Ele é um legítimo representante da boa índole e da
hospitalidade libanesa. Muitas vezes nos últimos tempos tenho torcido
para que ele não seja assim, já que estamos precisando de um presidente
mais enérgico, que imponha com mais tenacidade e até com um pouco de
“autoritarismo” as diretrizes necessárias para nos fazer atravessar as
tempestades deste mar bravio em que nos encontramos.
Fui apresentado a Temer por um deputado que havia sido colega de meu
pai, o saudoso Maluly Netto, que servia como catalizador da bancada
libanesa no Congresso Nacional.
Lembro-me de algumas reuniões na embaixada do Líbano, convidados
pelos Hobaika, Samir e Mona, um belíssimo e elegante casal que
representava aqui o país de nossos antepassados. Desde ali observei que o
jeito discreto e pacato de Michel fazia dele o interlocutor desejado
pelos políticos mais conservadores, qualidade da qual ele iria se
aproveitar nos anos seguintes, na condição de líder do maior partido de
centro do Brasil.
Minha maior aproximação com o atual presidente da República foi
quando da minha relatoria do projeto do deputado Amaral Neto sobre a
inclusão da pena de morte em nosso texto constitucional. Até hoje me
pergunto o motivo de terem me colocado para relatar matéria tão
polêmica.
O fato é que no meio da tramitação do projeto, eu fui designado para
representar o Brasil em uma missão oficial na China e tinham que
escolher um deputado para me substituir por 15 dias, enquanto eu
estivesse fora do país. O presidente da Comissão de Direitos e Garantias
Individuais, Darcy Pozza, me chamou e perguntou quem eu indicava.
Michel estava sentado duas cadeiras adiante e eu disse que poderia ser
ele.
Nunca imaginei que eu teria escalado para me substituir, um colega que viria a ser, mais tarde o presidente da República!
Mas, deixando tudo isso de lado, gostaria de dizer algo sobre este
homem que não é nenhum santo, porém, certamente não merece tanta
desconsideração como vem recebendo.
A imagem de Michel Temer está manchada, sua biografia maculada, e
acredito que sua administração não será exaltada no futuro, mas espero
que a história, um dia, lhe faça justiça e demonstre que tudo isso que
está acontecendo se deve às condições catastróficas que ele herdou e
teve que enfrentar, decorrente de um governo anterior desastroso, de uma
conjuntura política decrépita, de uma radical convulsão social e de um
momento econômico extremamente volátil.
O que Temer está enfrentando, os percalços pelos quais ele está
passando, são coisas que uma pessoa comum não seria capaz de suportar.
Com uma impopularidade que beira 95%, o governo de Temer não entrará
para a história do Brasil como um modelo a ser seguido, porem é
importante que a história também registre, de maneira objetiva e
imparcial, os acontecimentos que determinaram seu tempo no comando de
nosso país.
Espero que um dia se possa fazer justiça quanto ao trabalho de Temer,
mesmo que hoje, de perto, muitos não sejam capazes de reconhecer sua
verdadeira importância.
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