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quarta-feira, 7 de outubro de 2015

A participação do negro na política e a importância do voto étnico

O primeiro parlamentar federal negro eleito no Brasil foi Eduardo Gonçalves Ribeiro, maranhense e filho de uma mulher negra que foi escravizada. Anteriormente, já havia sido o primeiro afrodescendente a assumir um governo de província, a do Amazonas de 1892 até 1896, logo em seguida foi eleito Senador, mas não tomou posse. Em 1897 foi eleito Deputado Federal, exercendo o mandato até sua morte em 1900.
Augusto Serra
Augusto Serra
“Viva a República sem o preconceito de cor” Esse foi o lema usado para garantir a posse de outro negro a ser eleito deputado na história brasileira, o doutor em Direito e abolicionista, nascido em Recife em 1867, Monteiro Lopes, que só conseguiu tomar posse em 1909 depois de muita agitação em prol de seu mandato e da participação do negro na vida política nacional.
De lá para cá o voto étnico negro produziu interessantes situações de sucesso eleitoral, como Alceu Collares, no Rio Grande do Sul, Albuino Azeredo, em Vitória, em 1991, ambos do PDT, Benedita da Silva, do PT, em 1989, Celso Pitta, do extinto PPB, em 1996, e o caso clássico de Leonel Brizola com seu “Socialismo Moreno,” mas que não conseguiu tirar a massa negra do processo de alijamento eleitoral, haja vista a pouca representatividade própria dos referidos negros que se sagraram vitoriosos em  eleições passadas. No entanto, cresceu em 3% a participação dos negros na política brasileira, que era de apenas 5% em 2008. Já 2010, o Congresso Nacional elegeu 43 deputados e deputadas negros, chegando ao índice de 8,5 % de negros no Parlamento brasileiro.
Quanto ao mapa geopolítico, a Bahia, além de ter a maior população negra, também tem a dianteira no quesito de representação parlamentar, elegendo a maioria dos negros aos cargos de deputado federal.
De acordo com os pesquisadores Amaury de Souza e Nelson do Valle, os negros têm comportamento eleitoral diferente dos brancos. Por exemplo, em 1960 os negros votaram mais em Jango, o que comprova a vocação em votar em candidatos do campo trabalhista e populista. Outros exemplos são as eleições de Brizola e de Benedita da Silva para o governo do Rio de Janeiro. Essa guinada deu-se acentuadamente a partir da Constituição de 1988, ao permitir o voto dos analfabetos em que milhões de cidadãos negros foram alçados ao eleitorado. Contudo, o sociólogo Antônio Sergio Guimarães, autor do livro Classes, Raças e Democracia, ressalta que o voto étnico não é uma exclusividade da comunidade negra, pois já é utilizado pelos italianos, sírio-libaneses e portugueses.
Em Codó, um município eminentemente negro, na sua historia politica foram poucos os negros eleitos para ocuparem os cargos no legislativo e no executivo municipal, e dos poucos que tiveram essa oportunidade, muitos, se quer se identificavam como negro e nunca deram destaque à luta pela valorização do negro, pela igualdade étnica e pelo combate à discriminação racial e o racismo, pois a maioria deles chegaram ao cargo pelas mãos dos caciques políticos locais, em projetos voltados para os interesses desses senhores, comportando-se muitas vezes como capitão do mato da escravidão moderna.
Se o “voto negro” significasse “voto no negro”, teríamos uma maioria de representantes negros nos cargos eletivos, visto que 55% dos brasileiros que têm direito a votar pertencem a esse grupo étnico-racial, em Codó esse percentual ultrapassa 80%.
Para as eleições de 2016, defendemos sim o voto étnico, para o fortalecimento e representatividade das ditas minorias que na realidade são a maioria dos que votam e que nunca foram de fato e de direito representados. Que fique compreendido que não basta ser negro, ser cigano ou árabe, temos que ter é consciência politica e consciência da causa étnica.
“O Estado brasileiro é um Estado racista, que tem a opressão racial na sua gênese. Mas a nossa luta criou espaços institucionais onde a gente possa atuar. Por isso é importante a nossa participação no processo eleitoral.”
Texto de Augusto Serra – Militante do Movimento Negro, Produtor Cultural e Pesquisador da Cultura afro-brasileira, Vice-Presidente da UNEGRO-MA, Coordenador da ONG AFROVERMELHO, Representante dos Gestores Maranhenses de PIR no FIPPIR/NE, Secretário Municipal de Cultura e Igualdade Racial de Codó-MA.

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